A Lei do Mandante e suas Implicações no Futebol Brasileiro
A Lei do Mandante provocou uma mudança significativa na dinâmica das transmissões de futebol no Brasil. Com a nova legislação, os clubes passaram a ter a autonomia de negociar individualmente os direitos de transmissão dos jogos em que atuam como mandantes. Essa alteração levou à fragmentação do mercado, resultando na formação de blocos de clubes e na transmissão do Campeonato Brasileiro por diversas empresas e plataformas, incluindo Amazon Prime Video, CazéTV e Record.
Avanços e Desafios
Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva e sócio da Sports Value Marketing Esportivo, avalia que a Lei do Mandante representa um avanço para os clubes. Ele afirma que essa legislação proporciona uma maior independência, permitindo que cada clube tome decisões que possam ser mais benéficas para sua própria situação, ao contrário do que ocorria anteriormente, quando as decisões sobre direitos de transmissão dependiam de negociações coletivas.
Somoggi menciona que o Flamengo foi um dos principais responsáveis pela criação da chamada “MP do Mandante”, que posteriormente se transformou em lei. Apesar das polêmicas que cercam esse novo modelo, o Flamengo se destaca como um exemplo na prática da nova legislação, optando por não negociar os direitos de transmissão internacionais e, em vez disso, lançou sua própria plataforma. Além disso, o clube se encontra atualmente em uma disputa com a Libra.
A Divisão de Receitas Antes da Lei do Mandante
Antes da implementação da Lei do Mandante, a divisão de receitas seguia um modelo que assegurava uma distribuição igualitária. Essa fórmula consistia em 40% para todos os clubes, 30% baseados nas transmissões e 30% com base no desempenho, além das receitas de pay-per-view (PPV). Nesse contexto, clubes como Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Grêmio recebiam valores mínimos garantidos de PPV, o que os protegia contra variações no mercado.
Em 2023, o Flamengo recebeu um total de R$ 275,2 milhões em cotas de TV, que foram distribuídas da seguinte forma:
- R$ 177,3 milhões provenientes do PPV;
- R$ 40,6 milhões referentes ao 4º lugar no Campeonato Brasileiro;
- R$ 25,4 milhões pela quantidade de jogos exibidos;
- R$ 31,9 milhões da cota fixa igualitária.
O Desafio da Fragmentação
Embora a Lei do Mandante tenha proporcionado mais autonomia aos clubes, também trouxe o desafio da fragmentação dos contratos de transmissão. Amir Somoggi destaca que essa fragmentação impacta especialmente os patrocinadores e as marcas que investem em clubes como o Flamengo. Ele observa que, com a mudança no consumo de conteúdo, especialmente entre os jovens que não assistem mais televisão aberta, as marcas precisam adaptar suas estratégias.
Somoggi menciona o exemplo da Betano, que investe consideráveis quantias no patrocínio do Flamengo. No entanto, a visibilidade e o retorno sobre esse investimento podem ser comprometidos, já que o público mais jovem pode não estar assistindo aos jogos através dos meios tradicionais de transmissão. Isso exige que tanto os clubes quanto os patrocinadores reavaliem suas abordagens de marketing e comunicação, utilizando mais ativamente os canais digitais.
Esse cenário evidencia que a Lei do Mandante não apenas alterou a forma de negociação entre clubes, mas também impactou a maneira como o futebol é consumido. A pulverização das transmissões dificulta a entrega de uma visibilidade em larga escala, obrigando clubes e patrocinadores a repensar as estratégias de ativação de suas marcas.
Impacto no Flamengo
Apesar das novas oportunidades criadas pela Lei do Mandante, a situação do Flamengo é complexa. A gestão do clube, liderada por Rodolfo Landim, aceitou ceder alguns benefícios durante as negociações, o que gerou descontentamento. A divisão de receitas definida pelos membros da Libra exclui o pay-per-view, não garante um mínimo e distribui a audiência de forma igualitária entre os clubes. O Flamengo argumenta que essa medida é ilegal, pois deveria haver unanimidade nas decisões, e não há comprovação de um documento assinado por Landim concordando com as novas regras.
A projeção atual de receitas para o Flamengo indica uma perda de R$ 100 milhões em comparação ao período anterior, o que representa um impacto financeiro significativo. O clube apresentou um cenário alternativo que poderia aumentar a arrecadação em R$ 20 a 30 milhões, mas ainda assim enfrentaria uma queda de R$ 70 a 80 milhões em relação ao ano anterior.
Comparação de Receitas
A seguir, uma comparação entre as receitas do Flamengo em 2023 e as projeções para 2025:
- Flamengo: de R$ 275 milhões para R$ 198 milhões
- Palmeiras: de R$ 163 milhões para R$ 191 milhões
- São Paulo: de R$ 112 milhões para R$ 150 milhões
- Grêmio: de R$ 170 milhões para R$ 145 milhões
- Atlético-MG: de R$ 121 milhões para R$ 138 milhões
- Red Bull Bragantino: de R$ 86 milhões para R$ 104 milhões
- Bahia: de R$ 72 milhões para R$ 95 milhões
- Vitória: de R$ 64 milhões para R$ 87 milhões
Esses dados indicam que, enquanto o Flamengo está enfrentando uma redução nas receitas, outros clubes tendem a aumentar seus ganhos. É importante ressaltar que essa diminuição nas receitas do Flamengo não pode ser atribuída exclusivamente à Lei do Mandante, mas também às decisões tomadas durante a negociação dos contratos.
A Necessidade de um Modelo Sustentável
Por fim, Amir Somoggi argumenta que um modelo de liga estruturada seria a solução mais viável para o futuro do futebol brasileiro. Ele observa que, atualmente, nem a Libra nem a Liga Forte União têm a capacidade de investir em branding, internacionalização e desenvolvimento de novos conteúdos digitais. Somoggi acredita que um modelo de liga permitiria um investimento mais significativo em conteúdos e uma melhor adaptação à fragmentação digital.
Ele ressalta que, enquanto clubes de renome mundial, como Real Madrid, Barcelona, Bayern e Liverpool, enfrentam dificuldades para investir em suas marcas e expandir sua presença internacional, o Brasil ainda precisa encontrar um caminho que favoreça essas iniciativas. Para isso, é fundamental que as discussões sobre a transformação digital e a internacionalização do mercado brasileiro sejam priorizadas.
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