Uma vitória digna de um filme – MundoBola

CRÔNICA ESPECIAL

Sábado mágico

No sábado, dia 23 de agosto de 2025, um dia que poderia parecer comum, aconteceu uma final de Mundial com os Garotos do Ninho. Neste dia, renovei minha convicção flamenga e conquistei novas mentes e corações. Tive a oportunidade de viver esse momento mágico ao lado da minha filha, amigos e da Nação, e venho relatar essa história para a posteridade.

O gol que virou homenagem eterna

O primeiro gol da final ocorreu aos 10 minutos do primeiro tempo, em um momento carregado de simbolismo. A torcida do Flamengo cantava a música em homenagem aos 10 Garotos do Ninho que perderam suas vidas no trágico incêndio que atingiu o Centro de Treinamento do clube em 2019. Esse fato, por si só, já seria digno de um filme.

No entanto, a história foi muito além disso. O gol, marcado pelo jogador Lorran após uma tabela com Matheus Gonçalves, se revelou como o prenúncio de mais uma final épica vivida pelo Flamengo. Neste momento, as lágrimas que já se acumulavam em meus olhos, provocadas pela emoção de ouvir a música dedicada aos Garotos do Ninho, escorriam com um significado que só aqueles que frequentam estádios de futebol pelo mundo podem compreender.

Ao meu lado, minha filha também chorava de emoção. Era a primeira final que assistíamos juntos no estádio. Após os gritos de gol, que representam uma catarse coletiva, a torcida voltou a entoar a música em homenagem aos Garotos do Ninho, que havia sido interrompida com o gol. A plenos pulmões, homenageamos aqueles 10 jovens que poderiam estar em campo, honrando o Manto Sagrado e fazendo a Nação vibrar. “…ah como seria bom ter vocês aqui, honrando o manto do Mengão, com raça e paixão…” E, naquele instante, percebemos que eles estavam ali conosco e sempre estarão.

Quando o Barcelona reagiu

Nos 80 minutos seguintes, intensas lutas aconteceram. O Barcelona, um dos clubes espanhóis com uma das melhores bases do futebol mundial, responsável pela formação de jogadores como Messi e Yamal, conseguiu empatar o jogo no segundo tempo.

Nos acréscimos da partida, o time espanhol virou o jogo com um cabeceio de um zagueiro, em uma cobrança de escanteio. Nesse momento, a torcida do Flamengo ficou em silêncio, pois o Barcelona se aproximava da conquista do título mundial Sub-20 em um lance decisivo nos acréscimos. Algumas pessoas começaram a deixar o estádio, possivelmente para evitar a amarga experiência da derrota. Muitos pais levaram seus filhos ao estádio pela primeira vez para assistir a essa partida, e a expectativa era por um momento de vitória, e não de derrota.

Entretanto, a maioria dos torcedores permaneceu. Isso demonstrou que, na verdade, o importante era ter calma e lembrar que o jogo só se encerra quando o juiz apita o final da partida. O aprendizado que ficou claro é que não podemos desistir antes do apito final. O jogo termina quando acaba.

Além disso, existem os predestinados, aqueles que, por uma iluminação inexplicável ou por um espírito competitivo que não aceita a derrota diante de 45 mil torcedores torcendo incansavelmente, decidem que irão se esforçar para repetir o que outros grandes nomes do Flamengo já fizeram, como Rondineli, Zico, Petkovic e Gabigol. “O jogo só termina quando acaba. Ensinamentos que se tornam pilares para toda uma vida.”

O gol improvável de Iago

Em meio à tensão da partida, conversei com um amigo, alertando-o para que não saíssemos, pois os aprendizados não ocorrem apenas nas vitórias. A derrota também traz lições. Se estávamos ali para presenciar uma derrota dolorosa, deveríamos ficar para aprender junto com nossos filhos.

Era essencial que mostrássemos a eles que não vivemos apenas de triunfos, mas que as derrotas também educam. Contudo, essa reflexão entre nós durou pouco mais ou menos dois minutos. O que estávamos prestes a vivenciar, sem ter a menor ideia, era que não levaríamos para casa naquela noite o aprendizado de saber perder e seguir em frente.

Nosso aprendizado seria o de nunca desistir antes do fim, uma lição que se tornaria um pilar para toda uma vida. Enquanto pensamentos diversos ainda flutuavam na mente da torcida apaixonada, os Garotos do Ninho mantiveram-se firmes em seu propósito e convicção de conseguir a vitória.

Um dos atletas que se destacava nesse aspecto era Iago, zagueiro que, para ele, a derrota nunca foi uma opção. Ele não tinha nada a aprender com uma possível derrota; seu desejo era vencer. Como diz o hino do Flamengo: vencer, vencer, vencer, uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.

A ação decisiva

Movido por essas convicções e outras que desconheço, Iago se lançou ao ataque no último lance do jogo. Todos no estádio, em casa e nas cabines de transmissão sabiam que aquele era o último lance da partida. Ele pediu a bola ao lateral direito Daniel Salles, que estava antes do meio de campo. O lateral, inspirado pelo gesto de Diego Ribas em 2019, fez um lançamento de 40 metros em direção à área adversária.

Diferente daquela ocasião em que Diego buscava o artilheiro Gabigol, Daniel viu seu companheiro de zaga e capitão do time, Iago, correndo em direção à área, disposto a tentar o impossível. Com poucas opções, Daniel deu mais dois toques na bola, se posicionou e chutou com força e precisão em direção ao seu colega. Quando a bola foi alçada na área, Daniel estava dizendo para Iago: "Vá e vença!" E foi exatamente o que Iago fez.

Correu com toda a sua força e saltou alto para cabecear dentro da grande área, disputando a bola com o jogador que havia marcado o primeiro gol do Barcelona e que havia incomodado a zaga ao longo dos 90 minutos.

Porém, Iago sabia perfeitamente o que estava fazendo e conseguiu superar o goleiro do Barcelona, que foi encoberto pela bola que se dirigiu ao fundo da rede. A torcida explodiu em uma catarse épica, comemorando um gol improvável nos minutos finais de uma final de campeonato, algo que nem os mais talentosos roteiristas conseguiriam imaginar.

Após essa partida, que fez a torcida do Flamengo relembrar a final épica da Libertadores de 2019, agora com os Garotos do Ninho, ficou evidente que nunca devemos desistir. Independentemente do placar adverso que enfrentamos na vida, o jogo só termina quando acaba.

Obrigado, Iago! Agradeço também aos pais de Iago por ensiná-lo a acreditar até o fim. Obrigado, Flamengo! E, por fim, agradeço à minha filha, por sempre me fazer acreditar, até o fim.

Renato Martins. Pai, cineasta, flamenguista. Diretor de Magro de Aço. Siga-o em renatomartins.cineasta (Instagram) e @RenatoM0877 (X) e @jacquelinefilmes (YouTube).

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