Asterix e o Flamengo: Uma Conexão Histórica
A maioria de nós conhece o personagem Asterix, criado por René Goscinny e Albert Uderzo nos anos 50. A obra mistura elementos do povo gaulês durante o Império Romano com a Resistência Francesa da época da República de Vichy, um período triste da história da França.
O Escudo Arverno
Uma das publicações lançadas pela Editora Record nas décadas de 1970 e 1980 era “O Escudo Arverno”, que abordava o escudo do líder gaulês Vercingetórix, derrotado na batalha de Alésia.
Na narrativa, o chefe da aldeia gaulesa, Abracurcix, resiste à ocupação romana e viaja ao país arverno, onde se localizava Alésia, para tratar de problemas de saúde. Abracurcix é retratado andando por sua aldeia em cima de um escudo, carregado por dois guerreiros. No desfecho da história, revela-se que o escudo de Vercingetorix, anteriormente roubado e trocado por vinho, havia estado com Abracurcix o tempo todo. O reconhecimento do escudo e sua importância para os gauleses são temas centrais, mostrando como símbolos impactam a população.
A Conexão com o Flamengo
Este extenso preâmbulo pode parecer deslocado para os torcedores do Flamengo que esperavam um conteúdo diretamente relacionado ao clube. No entanto, a conexão é clara: trata-se do Flamengo, do nosso "escudo arverno" e das relíquias que representam nossa história, como o acervo de Eduardo Vinícius de Souza, uma grande perda em 2024, que será sentida por gerações.
Contrato de Patrocínio e Eventos Históricos
Na noite de 19 de agosto de 2025, o Flamengo aprovou o maior contrato de patrocínio da sua história com a Betano, garantindo mais de 100 milhões de reais em janeiro de 2025, totalizando mais de 220 milhões. Além deste fato econômico significativo, dois eventos importantes ocorreram no mesmo dia: a aprovação de uma emenda antiracista que torna o racismo passível de expulsão dos clubes e o pronunciamento do conselheiro Túlio Rodrigues sobre o acervo de Eduardo Vinícius de Souza, oficializando a discussão no Conselho Deliberativo.
Túlio Rodrigues destacou que, embora o Museu do Flamengo seja uma obra magnífica e necessária, não deve ignorar o trabalho de colecionadores dedicados como Eduardo Vinícius de Souza e Maurício Neves de Jesus, autor da série "Me Arrebata". O acervo de Eduardo, construído ao longo de décadas, pertence à história imortal do Flamengo. É responsabilidade do clube resgatar o que pertence à sua memória, compensando a família de Eduardo de alguma forma.
A Importância do Acervo
Entre as muitas peças históricas, uma mencionada por Túlio é a camisa utilizada por Jayme de Carvalho, fundador da Charanga. A importância de resgatar essa camisa é evidente, pois sua preservação é vital para a história do clube. A discussão se estende à necessidade de um espaço físico que abrigue a Memorabilia Rubro-Negra, onde se guardem e publiquem livros sobre o Flamengo, além de outros acervos que podem se perder, como o do Recanto Rubro-Negro em Lages (SC).
A ideia de preservar a memória do Flamengo foi debatida com o cronista Rubro-Negro Marcelo Dunlop, ressaltando que o que fazemos hoje impacta o futuro. A história do Flamengo deve continuar a ser contada e muitas páginas estão no acervo de Eduardo Vinícius de Souza e de outros colecionadores.
A Necessidade de Preservação
É fundamental que o Flamengo destine uma parte de seu orçamento para preservar sua história. Cita-se, por exemplo, a situação das chuteiras de Zico, anteriormente passadas por Carlinhos. A atual gestão, já inovadora no combate ao racismo e na defesa de valores humanistas, deve entender a importância da memória para a eternidade e ir além do Museu.
Parabéns aos conselheiros que defendem essa causa e à atual gestão, que deve se sensibilizar com a ideia de criar um espaço definitivo para a alma flamenga. A eternidade espera por isso.
Gustavo de Almeida é jornalista, roteirista do filme "INTERVENÇÃO" e autor do livro "O Velho e o Zico". Siga no Instagram: @gustavodealmeida68.